Amarelo Jaune

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Quero dar significado à moda brasileira #2

Eu - jornalista: o que me encanta na moda? O espetáculo. A comunicação visual. A roupa como expressão de cultura e comportamento. O suposto conceito. A chamada “inspiração” de uma coleção transformada em cores, texturas, formas, estampas... Transformada no andar daquelas meninas de 13 anos, que por alguns segundos podem ser as mulheres mais desejáveis, em cenários, em papel, em fonte, em cheiro, em sons - que têm a importante função de orientar o estado de espírito da platéia. Sim. A música tem um inexplicável poder sobre humor das pessoas, e é essencial para o público ver e entender uma coleção. Um desfile é como um ballet. Não bastam corpos esculturais... É preciso muita técnica, uma coreografia criativa, um cenário perfeito, um figurino coerente e que favoreça o movimento, uma música genial (ou a falta dela) e, como diria Glauber, “uma idéia na cabeça”. O espetáculo não é gratuito, assim como uma coleção e sua apresentação tanto na passarela, quanto em um catálogo ou vitrine.


Eu – estilista: qual a minha decepção? O vazio. A roupa pela roupa. Descobrir que todo esse encanto em torno de uma coleção é falso, não sei se por falta de interesse ou tempo. Quero acreditar que o problema aqui seja o tempo. Quero acreditar que o mercado fast fashion está engolindo “o estilo” das marcas brasileiras por estas serem obrigadas a seguir um calendário insano e, por isso, acabam sem ter condições de se aprofundar nos estudos para sua coleção. “Se aprofundar” é uma incoerência do mundo contemporâneo, na medida em que tudo está acessível, mas nada é verdadeiramente consistente. O tempo que corre mais rápido atropela a criação. E o excesso de informação limita. Assim, para produzir há apenas a preocupação em “seguir as tendências internacionais” e para isso contratam consultoras, viajam e olham desfiles na internet. Não que eu desvalorize esse tipo de informação, afinal o consumidor obedece a padrões estudados por grandes especialistas e não posso negar o quanto o mercado da moda é assustadoramente poderoso. Afinal quem é um estilista que não vende? O que incomoda é que o simples ato de “seguir tendências” como se olhar para a Europa fosse olhar para o futuro (a previsão de tendência não é mais que uma tentativa de prever o futuro – um dos poucos desejos que o homem ainda não conquistou para estar mais convencido de sua superioridade) me parece por demais vazio. Dessa maneira, decidi não “fazer moda”, mas somente “pensar moda”. Mas quem sou eu para simplesmente não gostar do sistema ou me enganar dizendo que posso escolher não me envolver?Já estou envolvida. E proponho a busca de conteúdo para estes estilistas porque quero dar significado à moda brasileira. Pensá-la sempre, mas trabalhar para se torne cada vez mais densa e comunique esta cultura e este tempo. Afinal, assim será mais gostoso pensar...

Eu – figurinista. O que me deixa cada vez mais realizada em trabalhar com moda? É a história, a arte, a sociologia, a psicologia, a semiologia, a política, a economia, a antropologia da roupa. O coração palpita, os olhos enchem de água e a vontade é de gritar bem alto: a moda pode ser efêmera ( o que não necessariamente a leva à futilidade, apenas a mais um sinal do mundo contemporâneo) mas a ROUPA diz muito mais do que bonitos corpos em produtos desejáveis...Há, ainda, a relação da roupa com o corpo. A roupa encarnada que se transforma e pode ser codificada e decodificada de formas tão diferentes. Tudo depende de quem vê o corpo vestido. Signos da roupa. Quero descobri-los. É esta a minha bandeira. Quero dar significado à moda brasileira.


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Significado: relação de estima, importância, valor, conteúdo semântico de um signo lingüístico, sentido, conceito.


Significar: dar a entender por sinais, indicar, mostrar, fazer compreender, querer dizer, traduzir, fazer conhecer, participar, comunicar.

Fútil: Leviano, frívolo. Vão, inútil. Que tem pouca ou nenhuma importância.

Efêmero: Que dura um só dia; Passageiro, transitório

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