Quero dar significado à moda brasileira
Eu - jornalista: o que me encanta na moda? O espetáculo. A comunicação visual. A roupa como expressão de cultura e comportamento. O suposto conceito. A chamada “inspiração” de uma coleção que se transforma em cores, texturas, formas, estampas... Se transforma no andar daquelas meninas de 13 anos, que por alguns segundos podem ser as mulheres mais desejáveis, se transforma em cenários, se transforma em papel e em fonte, se transforma em cheiro, se transforma em sons que têm a importante função de orientar o estado de espírito da platéia. Sim. A música tem um inexplicável poder sobre humor das pessoas, e ela é essencial para o público ver e entender uma coleção. Um desfile é como um ballet. Não bastam corpos esculturais... É preciso muita técnica, uma coreografia criativa, um cenário perfeito (ou não), um figurino coerente e que favoreça o movimento, uma música genial (ou a falta dela) e, como diria Glauber, “uma idéia na cabeça”. O espetáculo não é gratuito, assim como uma coleção e sua apresentação tanto na passarela, quanto em um catálogo ou vitrine.
Eu – estilista (ou jornalista que procura entender a criação das marcas brasileiras): qual a minha decepção? O vazio. A roupa pela roupa. Descobrir que todo esse encanto em torno de uma coleção é falso, não sei se por falta de interesse ou tampo. Quero acreditar que o problema aqui seja o tempo. Quero acreditar que o mercado fast fashion está engolindo “o estilo” das marcas brasileiras por serem obrigados a seguir um calendário insano e, por isso, acabam sem ter condições de se aprofundar nos estudos para sua coleção. “Se aprofundar” é uma incoerência do mundo contemporâneo, na medida em que tudo está acessível, mas nada é verdadeiramente consistente. O tempo que corre mais rápido atropela a criação. E o excesso de informação limita. Assim, para produzir há apenas a preocupação em “seguir as tendências internacionais” e para isso contratam consultoras, viajam e olham desfiles na internet. Não que eu desvalorize esse tipo de informação, afinal o consumidor obedece a padrões estudados por grandes especialistas e não posso negar o quanto o mercado da moda é assustadoramente poderoso. Afinal quem é um estilista que não vende?
O que me incomoda é que o simples ato de “seguir tendências” como se olhar para a Europa fosse olhar para o futuro ( a previsão de tendência não é mais que uma tentativa de prever o futuro – um dos poucos desejos que o homem ainda não conquistou para estar mais convencido de sua superioridade) me parece por demais vazio. Dessa maneira, decidi não “fazer moda”, mas somente “pensar moda”.
Mas quem sou eu para simplesmente não gostar do sistema e me enganar dizendo que posso escolher não me envolver?Já estou envolvida. E proponho a busca de conteúdo para estes estilistas porque quero dar significado à moda brasileira. Pensá-la sempre, mas trabalhar para se torne cada vez mais densa e comunique cultura. Afinal, assim será mais gostoso pensar...
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Significado: relação de estima, importância, valor, conteúdo semântico de um signo lingüístico, sentido, conceito.
Significar: dar a entender por sinais, indicar, mostrar, fazer compreender, querer dizer, traduzir, fazer conhecer, participar, comunicar.
2 comentários:
Beta,
Estou de cara...
Agora visitei e li seu blog. Que exercecício maravilhoso, afinal vc, crítica por natureza, começa a publicar!
Parabéns... eu adorei e vou ler sempre, pq conteúdo é bom e agente gosta!
que texto excelente! uma análise muito precisa da situação hoje de moda no país.
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